Chegamos ao Chile, único país sul-americano, além do Equador, a não fazer fronteira com o Brasil.
“Devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu” – quem nunca escutou esses versos de “Trocando em miúdos”, de Chico Buarque? No início dos anos 1970, quando o Brasil vivia os piores anos da ditadura militar, o Chile era o destino de muitos exilados, animados com o governo de Salvador Allende. Foi por essa época, em 1971, que o poeta chileno Pablo Neruda ganhou o Nobel de Literatura, sendo festejado como parte dos bons ventos chilenos desse começo de década, logo transformados em tempestade pelo golpe sangrento de Pinochet.
Espremido entre a Cordilheira dos Andes e o oceano Pacífico, o Chile tem deserto e tem geleira, tem mar, tem lagos e vulcões. Sua literatura e sua vida intelectual refletem essa multiplicidade, assim como mostram as cicatrizes deixadas pelo período pinochetista.
Para caminhar por esse território de cerca de 4,3 mil quilômetros de extensão norte-sul e apenas 200 quilômetros de leste a oeste, acabamos deixando muita gente boa de fora, como Roberto Bolaño, que, apesar de ter vivido muitos anos fora de seu país natal, era chileno – seu Noturno do Chile, entre outros livros, não nos deixa esquecer disso.
Começamos com os poemas de Gabriela Mistral e de Nicanor Parra. De lá, vamos aos prosadores da nova geração: Alejandro Zambra, Nona Fernández, Alejandra Costamagna e Lina Meruane. Depois deles, celebramos o encontro de uma das maiores escritoras chilenas em atividade, Diamela Eltit, com a célebre fotógrafa Paz Errázuriz (que, aliás, aos 76 anos, registrou com sua câmera as manifestações chilenas recentes).
Boa viagem (e devolva o Neruda, mas não antes de ler!).