“É nossa tarefa desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las vivas e disponíveis até que o politicamente impossível se torne politicamente inevitável.”
“É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?”, pergunta o subtítulo de “Realismo capitalista”, de Mark Fisher (1968-2017). No livro, que compõe a seleção do nosso projeto Temporada no Futuro, o filósofo e crítico cultural britânico reúne exemplos de política, filmes, ficção, trabalho e educação para analisar o sucesso do capitalismo em se apresentar como único sistema político-econômico aparentemente viável no mundo.
Fisher desnuda o desenvolvimento e as principais características do “realismo capitalista”, mostra que há uma série de inconsistências e falhas internas ao programa de realidade do capital, e aponta para a urgência de desmontar a ideia de que não há alternativas possíveis.
“A premissa de que não há alternativas para viver em sociedade ou maneiras diferentes de conduzir a economia fora do capitalismo é uma estratégia para limitar as nossas opções”, observa Stephanie Borges, curadora da temporada.
SOBRE O AUTOR
Mark Fisher nasceu em Leicester, na Inglaterra, em 1968. Foi escritor, crítico, teórico cultural, filósofo e professor no Departamento de Cultura Visual na Goldsmiths/Universidade de Londres. Conhecido pelos textos sobre política radical, música e cultura popular que escrevia em seu blog k-punk, foi colaborador de publicações como The Wire e New Statesman. Publicou diversos livros, incluindo “Realismo capitalista”, até o momento sua única obra publicada no Brasil.
REALISMO CAPITALISTA E O CINEMA
Tal como a literatura, o cinema é cheio de especulações sobre o futuro. E muitas vezes os dois se encontram, não apenas quando livros são adaptados para a tela, mas também quando é feito o caminho inverso. Em “Realismo capitalista”, um dos títulos da nossa Temporada no Futuro, Mark Fisher abre sua investigação comentando “Filhos da esperança” (2006), filme de Alfonso Cuarón que, de acordo com o filósofo e crítico cultural britânico, ilustra o potencial destrutivo do capitalismo tardio e o sentimento de que não há saída. Não se trata de apresentar alternativas a nossa realidade, mas de exacerbá-la, apresentá-la em toda sua intensidade.
“‘Filhos da esperança’ se conecta com a suspeita de que o fim já chegou, com o pensamento de que é bem provável que o futuro nos reserve apenas repetição e recombinação. Será que não existem mais rupturas ou ‘choques de novidade’ por vir?”
As distopias podem nos alertar sobre como a humanidade coloca a própria existência em risco, mas, por outro lado, várias construções de futuro na cultura pop também naturalizam a exploração do meio ambiente, a competição entre as pessoas e a desigualdade extrema. Inspirados por Fisher, preparamos uma lista de filmes com futuros que gostaríamos de evitar.
“Temos aqui alguns filmes em que, apesar das crescentes catástrofes que alteram as condições de vida no planeta, as pessoas seguem repetindo posturas que contribuem para o fim do mundo”, diz Stephanie Borges, curadora da temporada.