Nina Rizzi
Futuro do pretérito
“Eu queria ter uma casa, não me preocupar tanto com comida e frio, queria ter caderno e lápis de cor com cores diferentes e não andar tanto para ir à escola. Como morava na zona rural, foi lendo que descobri que as coisas foram diferentes e podem ser diferentes, e que o mundo não começa e nem acaba comigo. Minhas ficções e especulações quase não mudaram: continuei querendo casa com caderno e comida todo dia, pra todo mundo, mas troquei lápis por canetas que estavam ligadas direto ao pensamento, e as pessoas se teletransportavam. Hoje quero um futuro onde as pessoas não morram por causa de sua raça, orientação sexual, origem, gênero, mas apenas porque estão bem bem velhinhas; o SUS está fortalecido e serve de modelo para todos os países do mundo, não precisamos de um presidente, e a palavra ‘genocida’ não pode fazer sentido pra ninguém.”
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Quais eram as suas expectativas para o futuro quando era criança? E hoje? Como parte da Temporada no Futuro, a cada semana compartilhamos as lembranças e os anseios de convidados.
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Nina Rizzi é historiadora, editora, tradutora e poeta. Seus textos e traduções foram publicados em diversas revistas, jornais, suplementos e antologias no Brasil, Argentina, Chile, Espanha, Portugal, Estados Unidos, Angola e Moçambique. Entre seus livros estão “tambores pra n’zinga” (2012), “A duração do deserto” (2014), “quando vieres ver um banzo cor de fogo” (2017) e “sereia no copo d’água” (2019). Este ano, participou das coletâneas “As 29 poetas hoje”, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, e “‘Antes que eu me esqueça”, organizada por Gabriela Soutello.