Descrição
A edição 38 da revista Serrote traz o ensaio “Um pouco de navio negreiro”, nele a historiadora Ynaê Lopes dos Santos discute o impacto do tráfico de escravizados na formação da desigual sociedade brasileira. Especialista na história da escravidão nas Américas, ela diz que, para a população negra brasileira, os laços históricos de resistência a essa barbárie oferecem uma outra visão de liberdade. Em “As raízes e a cabeça”, a escritora Stephanie Borges reflete sobre seu percurso de descolonização, dos cuidados com o cabelo até a prática com a tradução e a poesia. O ensaio foi apresentado na Serrote ao Vivo, uma edição especial da revista concebida para o palco, realizada no Festival Serrote em 2020. No verbete “G de genocídio”, o pesquisador Evandro Cruz Silva investiga os sentidos de um conceito que atravessou suas fronteiras originais no direito penal para se tornar objeto do debate político. Um dos ganhadores do Concurso de Ensaísmo serrote em 2021, Silva diz que intelectuais negros ampliaram o alcance do termo para se opor à violência colonial constante. A edição traz também o ensaio “República Federativa de Rio das Pedras”, onde o jornalista Bruno Paes Manso atualiza os argumentos do seu livro A república das milícias para refletir sobre o Brasil de 2021. Para ele, o milicianismo, modelo de crime organizado forjado no Rio de Janeiro, se tornou o fundamento político da extrema direita eleita em 2018. Em “Não ver”, ensaio pessoal em forma de diário, Ilana Feldman registra a degradação da vida cotidiana em Brasília entre as eleições de 2018 e a pandemia de covid-19. Nos registros de Feldman, violência política, fundamentalismo religioso e incertezas da quarentena se misturam, afetando os sonhos e as relações pessoais. Outro destaque da revista é o trabalho do desenhista Eloar Guazzelli que, desde 1990, vem desenhando em folhas A4 uma cidade imaginária vista de cima. No ensaio visual “Cidade Nanquim”, ele apresenta fragmentos desse projeto monumental, que já se estende por centenas de folhas, com um sobrevoo por ruas, prédios, praças e monumentos inventados. Em “Reivindicar a cidade sem forma”, o arquiteto Otavio Leonidio defende que as ocupações físicas e discursivas do espaço público são horizonte de liberdade e enfrentamento ao controle do Estado. Ainda nesta ediçao, o escritor e historiador da arte Rafael Cardoso apresenta um trecho inédito no Brasil de seu novo livro, Modernity in Black and White. No ensaio “Modernidades ambíguas, modernismos alternativos”, ele afirma que o cânone modernista segue tributário de uma narrativa em que as culturas populares e de massa são ignoradas em favor das esferas elitistas de literatura, arquitetura, arte e música eruditas. A artista e escritora cubano-americana Coco Fusco debate as transformações dos museus em “Desmembrando o Império”. No texto, ela diz que instituições culturais precisam enfrentar a violência do colonialismo incrustada em seus acervos e restituir artefatos saqueados a seus donos. O ensaio é ilustrado com uma série de gravuras da própria Fusco, “The Undiscovered Amerindians”. Por fim, em “O túmulo de Alice B. Toklas”, o escritor americano Otto Friedrich traça um perfil da companheira de Gertrude Stein, iluminando a generosidade e a inteligência de uma personagem muitas vezes esquecida. O texto é acompanhado de desenhos da americana Maira Kalman para uma recente edição ilustrada do clássico A autobiografia de Alice B. Toklas, de Stein.
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