Descrição
“Para vocês que discriminam a música brega, escutem bem o que eu vou cantar: ‘Todo mundo é brega,/ mas tem besta que não admite/ e pensa que é o bom que é somente chique’”, canta Ismael Rabelo, cujo título da canção estampa a capa deste mês, resumindo bem o lugar do brega no Brasil. “Tudo que, para a elite, era música de pobre, era brega. Era considerado chulo, lixo”, lembra a cantora recifense Palas Pinho, uma das entrevistadas da reportagem desta edição, assinada pelo jornalista e pesquisador musical Antonio Lira.
Com fôlego de panorama abrangente da produção bregueira contemporânea e de fases anteriores, a matéria aponta luzes sobre uma cena que, há tempos, faz do Recife o coração – ou pelo menos um dos órgãos vitais – desse corpo pulsante. E não apenas como um gênero musical, senão como um movimento que tem se estabelecido em espaços de legitimação e extrapolado as fronteiras da cidade, angariando fãs e seguidores no país inteiro, sobretudo com o brega funk e o passinho.
“Seja nas carrocinhas, nas vitrines de lojas de departamento, nos programas de auditório locais, nas caixinhas de som espalhadas pelo transporte público e pelas praças, no som que vem da casa dos vizinhos, nas festas populares, bailes de casamento e formatura, nas boates noturnas, nos discos de Pabllo Vittar e Alice Caymmi e nas referências sonoras e estéticas de artistas como Johnny Hooker, Duda Beat e mesmo Anitta, é quase impossível passar imune a essa música produzida em Pernambuco”, escreve Antonio, que também repercute na reportagem a aprovação da lei que reconhece o brega como Expressão Cultural Pernambucana no Estado de Pernambuco.
Sobre a potência da música que nasce das periferias, protagonizada por negros e negras, conversa conosco a pesquisadora Luciana Xavier. Na entrevista, ela destaca a importância de cenas como a Black Rio e a soul music, no Rio de Janeiro, e a força política da festa. Luciana comenta sobre as possibilidades de pesquisadores se relacionarem com seus assuntos a partir de novas metodologias, brincando com a expressão “etnografias alcoolizadas”, ao se referir aos que têm nas festas um campo de trabalho acadêmico.
Aliás, é a bebida entrando e o brega tocando. Na reportagem, lemos como o “efeito libertador” do álcool pode contribuir para que os mais tímidos cedam aos encantos do brega na pista.
Esta edição traz ainda um encarte ilustrado especial, o livro A torre da lua cheia, assinado por Bráulio Tavares e Cavani Rosas. Aproveitem!
Nossa capa: MC Troia em arte de Rafael Olinto sobre foto de Dondinho.
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