Descrição
Ovíparos são os animais cujo embrião se desenvolve dentro de um ovo, em um ambiente externo e sem ligação com o corpo da mãe. Consequentemente, os ovíparos têm dois nascimentos, o da cloaca, que os coloca para fora, e outro, a partir da casca, quando se deparam com o mundo. Para Liv Lagerblad, Ovípara é um livro que tem também múltiplos nascimentos e, por conta disso, múltiplas vidas. Quarta publicação da poeta carioca, Ovípara se constrói em três partes, três possibilidades de realização. Marcadas por temporalidades e dicções distintas, as seções trazem em comum um eu elástico, que se espalha por todos os espaços do livro, ora com um corpo mínimo, que se quer menor ainda, e inviolável, ora grande como um bondinho, do tamanho da doença do século. “Eu sou a doença do século / eu espelho toda a cabeça-doença do século”, diz em um dos poemas. A violência desse livro surge também da vontade de se desdobrar em múltiplos para se caber em todas as vidas. Ovípara tem fogo, tem fúria, mas tem sobretudo angústia. A angústia do século, esse que mal começou mas já se encontra em profunda decadência. A vontade de construir de novo, começar de novo, é o que leva os poemas a gritarem: “Ai mundo ovo / pudera nascer de novo”. Liv Lagerblad se confirma, nesse livro, como uma das vozes mais criativas da sua geração. Ovípara pode ser lido também como um livro-processo, que se monta e desmonta durante sua busca por alguma possibilidade. Os eus que nascem do livro não se lamentam por quererem nascer de novo, mas se encontram em síntese nos versos do último poema: “desejei e fiz / saí da cloaca e rompi a casca”. Ovípara como uma serpente, a voz poética de Liv se arrasta durante esse trajeto de leitura que a edição propõe, e se encontra com ela mesma, devorando sua outra ponta e criando a imagem perfeita de um ouroboros infinito.
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