Descrição
Na Antiguidade se costumava nomear conjuntamente Homero e Hesíodo a frase de Heródoto que afirma que os dois poetas criaram os deuses para os gregos continua sendo ainda muito repetida. Na realidade, os elementos comuns, que são a métrica, a linguagem épica e a tradição rapsódica, superam em muito os que o separam e que colocam Hesíodo em um mundo configurado social e espiritualmente de maneira distinta. Já nisto diferem: a personalidade de Homero continua sendo, inclusive para os que não aceitam sua historicidade, uma sombra gigantesca, enquanto, por outro lado, conhecemos muito acerca da vida e do mundo que circunda Hesíodo através do seu próprio testemunho. Ele é o primeiro poeta do Ocidente que nos aparece formulando suas próprias inquietudes. Albin Lesky Este volume da Biblioteca Pólen apresenta o texto em grego e a tradução da primeira parte de Os trabalhos e os dias de Hesíodo. O poeta registra, nestes 382 versos, pela primeira vez, três importantes mitos da cultura grega, retomados inúmeras vezes e sob diversas abordagens artísticas pela tradição ocidental. As narrativas míticas sobre ‘Prometeu e Pandora’, ‘As duas lutas’, ‘As cinco raças’ e a fábula ‘O gavião e o rouxinol’ constituem o que se poderia chamar de arcabouço mítico-cosmogônico para a segunda parte do poema, na qual o poeta faz uma longa enumeração de conselhos práticos e considerações sobre as atividades de agricultura e de comércio marítimo. O poema foi traduzido verso a verso observando a exata transposição de todas as palavras do texto grego, com a preocupação de proporcionar, em nossa língua, um texto fluente e cuidadoso na recriação dos recursos sonoros e do caráter poético do original, evitando, entretanto, uma sintaxe arrevesada e trôpega no vernáculo, o que não corresponderia em nada à sintaxe do texto hesiódico. Acompanhando sua tradução, a professora Mary de Camargo Neves Lafer comenta esses mitos e mostra a preocupação de Hesíodo em apresentar as origens que explicam e estabelecem a ‘condição humana’. Apesar de escrito há vinte e oito séculos, este texto, de impressionante atualidade, guarda a força e a vitalidade tão férteis e estimulantes como conseguem ser os relatos dos mitos fundantes. Mary de Camargo Neves Lafer, professora de língua e literatura grega na USP, tem se dedicado ao estudo da literatura grega do período arcaico e, em particular, um trabalho sobre a figura de Afrodite na poesia épica da Grécia Antiga.
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