Descrição
Um menino sem nome perde o pai aos três anos, vítima de uma fatalidade, e precisa encarar mais um dia dos pais na escola. Como se faz para participar da celebração de uma existência que lhe foi negada? Ele decide escrever uma carta para o pai morto a fim de contar como está se sentindo. A partir daí, o que se desenrola é uma correspondência maníaca em que aparecem as tantas elaborações possíveis de um luto, as dores do crescimento, a errática construção das masculinidades, a convivência com a ausência. Apresentando uma narradora inusitada, este é um romance sobre precisarmos da imaginação para viver e sobre a lenta despedida que é a vida. – A história de um menino de nove anos que, na véspera da apresentação do dia dos pais na escola, está angustiado com tudo que cerca a data: conversas entre colegas e professores, ideias para homenagens, ensaios, constrangimentos. Ele não tem coragem de dizer que não tem pai, não sabe explicar o motivo mas sente vergonha de contar a verdade, sabe que os olhares de pena só agravariam a situação. Então inventa vidas que o pai não viveu e as apresenta como desculpa quando precisa dar alguma satisfação a alguém: “Ele mora em outro Estado”, “Ele e minha mãe se separaram e ele teve de sair de casa, não vai poder vir”, “Ele é alcoólatra, não quero que ele venha”, “Minha mãe é quem vem, porque meu pai se acidentou de carro”. Numa idade em que a possibilidade de se opor ao que quer que seja começa a se tornar bastante atrativa, ele decide que, quando chegar a vez de representar o seu papel na peça de teatro que a turma preparou para a festividade, vai ler a carta que escreveu ao pai para dar a real sobre como a vida está difícil naquele momento. Ele, que costuma ser invisível e gostar dessa condição, vai ter a atenção de todos. Mas essa é só a primeira carta. Depois do episódio catártico na escola, ele não consegue parar de escrever para o pai morto. Nas cartas, relata o relacionamento difícil com a mãe, a morte do cachorro e da avó, a sensação de ver a irmã crescer e se tornar cada dia mais distante, o fato de não se sentir parte da família do pai etc. A coisa fica preocupante quando ele, além de escrever as cartas, começa a imaginar as respostas que o pai lhe escreveria, que trazem detalhes da vida dos pais antes do seu nascimento e imaginam um futuro que não pôde acontecer, criando um relacionamento que só é possível por meio de palavras e imaginação. Desesperado e consumido por essa ideia, aos 20 anos (?) ele visita um psiquiatra e começa a fazer terapia para tentar abandonar a escrita das cartas, a correspondência com um fantasma. Com a ajuda do médico, com quem acaba construindo uma amizade forte, ele consegue, ainda que por acaso, encontrar um motivo para abrir mão do pai e das cartas que os mantinham vivos como pai e filho. Há ainda uma terceira voz, uma narradora inusitada, fundamental para a história. O pai morreu vítima de uma fatalidade: alérgico à dipirona, foi medicado com a substância por engano no hospital, após passar por uma cirurgia relativamente simples, e não resistiu. A dipirona narrará alguns episódios, aqueles que ele, o protagonista, não teve como conhecer.
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