Descrição
Como escrever sobre a ampliação a que submetemos este mundo em nossos esforços por ingerir e digerir a Colônia? Você pode começar a filosofar de muitas formas, mas se quiser começar por esta pergunta, organizamos estes experimentos de filosofia pós-colonial. Experimentos porque, antes de tudo, é preciso arriscar-se, desligar o automático. E desligamos — quando uma filosofia não serve para tornar estranhas as certezas, ela escangalha. Não é um ajuste de contas, apenas mudamos a direção do olhar na intenção de pensar o impensável em filosofias que se criaram nas brasilidades. Brasilidades não condizem com projetos de nação, elas são gambiarras, palavra do idioma brasileiro, significa juntar cacos de materiais que foram barbarizados, desprovidos de pureza, e criar brasilidades. Um manual de gambiarras que fosse um livro de filosofia brasileira. Ao terminar de escrever, Heráclito depositou o livro aos pés da deusa. Reivindicamos que o filósofo de Éfeso inclua uma vela a nossos antepassados e arrie um padê para Exu, senhor dos caminhos e descaminhos. Canta o aforismo que Exu acerta o pássaro ontem com a pedra que atirou hoje. Na realidade fantasmática do mito, o pássaro não preexiste à pedrada, ele existe e é abatido na abertura instaurada pelo movimento da pedra. É nessa fissura mítica escavada em um universo ordenado que situamos o elemento pós-colonial. Menos uma categoria historiográfica que princípio segundo o qual nossa ação funda temporalidades. Menos superação da colônia que potência para reinaugurar o passado a qualquer momento. Pós-colonialidade é abertura para o encontro com os fantasmas que não são ouvidos, com os que virão, com os quais não se fala, como forma de criar novamente aquilo que sempre esteve aí, ainda que uma hegemonia não quisesse olhar. Um livro de ensaios pós-coloniais que performasse os descaminhos que fizeram acontecer o imprevisível nas lutas do passado, sob a potência de um novo começo, contra a cruzada dos devoradores de mundo, apenas.
Avaliações
Não há avaliações ainda.