Descrição
Pela primeira vez no Brasil, Mina Gertrude Löwy (1882-1966) chega em edição bilíngue (português/inglês), através da publicação da edições 100/cabeças.A escritora inglesa esteve entre os mais energéticos círculos artístico-intelectuais do começo do século XX. Após estudar arte em Munique e Londres, cidade natal, mudou-se para Paris, onde participou dos badalados encontros na rue de Fleurus 27, organizados pela escritora, editora e mecenas Gertrude Stein.Mina Loy também se engrenou entre os futuristas na Itália e orbitou a explosiva esfera dadá em Nova York, onde conheceu o poeta pugilista Arthur Cravan, seu maior amor, e os encabeçadores do movimento na cidade: Marcel Duchamp e Man Ray. Passado o luto após a morte trágica do amante, volta a Paris nos “anos loucos” do “entreguerras”.No “Manifesto Feminista” (1914), propõe às mulheres que desmascarem as “ilusões de estimação” e descartem as mentiras dos séculos. Sua radicalidade combate “a irresponsabilidade do macho” e o futurismo dos homens com máquinas fálicas e duras, com a única reforma possível: a “demolição absoluta”. Foi essencial para a renovação crítica do espírito surrealista, cujos comprometimentos do movimento contra a opressão patriarcal via como propícios, mas que careciam de olhares na perspectiva feminina para desvincular a percepção objetificada do corpo da mulher, muito vista como “musa”, ou “mulher de”.O poema “Parturição” remete ao próprio trabalho de parto e desenrola paralelo metafórico com o nascimento das ideias, conforme elabora Maíra Mendes Galvão no texto “Traduzindo Mina Loy”, onde escreve que a autora chama atenção “primeiro pela estranheza que salta aos olhos” e se desenrola com a sensação de “uma qualidade de trapaça, de haver sempre algum truque de espelhos, algo escondido bem na superfície”.Este livro, que além dos textos também traz desenhos e manuscritos originais, é cuidadosa em respeitar os espaçamentos improváveis, variações no tamanho da letra e grifos da própria autora. Mina Loy, recuperada desse “esquecimento editorial”, tão atual e essencial, desembarca em momento oportuno. É força da maré revolta contra a lógica má-formada por perspectivas que ignoram o desejo. Contra “névoa da moralidade social”, com “visão em blecaute”, escreve com essa escritura estilhaçada, ansiando que leitoras e leitores abram as páginas e juntem os cacos.
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