Descrição
Depois do sucesso de Os postais catastróficos, semifinalista do Prêmio Jabuti 2019, Ismar Tirelli Neto apresenta agora seu novo trabalho em livro, Alguns dias violentos, cuja ideia já havia aparecido brevemente em formato de plaquete em 2014. Nessa nova coletânea, que mantém o ritmo do autor entre a poesia e prosa poética, o poeta debruça-se sobre a sensação do fim-de-mundo, já tão comum entre os poetas dos nossos anos 20, mas com a roupagem do estranho cotidiano que acompanha sua trajetória na escrita. Enquanto trabalhava os ajustes finais do livro, Ismar Tirelli Neto, no blog do IMS, apontou: “Penso que o fim do mundo é uma espécie de morada, que também ele tem a sua domesticidade, que também ele pode abrir-se para uma cena íntima. Ou então, que a nossa intimidade pode ser apresentada, dentre uma infinidade de coisas, como um mundo em vias de acabar. É este tipo de tensão que me interessa e que busco trabalhar”. E é justamente essa domesticidade do fim que acompanhamos na linha narrativa apresentada no livro. Trazendo cenas extraídas de situações corriqueiras e banais, como um encontro num saguão de hotel, por exemplo, Ismar desenha uma história a partir de vozes entrecortadas e desiludidas, feito um exímio curador que apresenta aos espectadores trechos de antigas fitas de filmes clássicos. Tal experiência dá a ver a construção de uma estética que funciona como pano de fundo de todo o livro, essa que consegue maximizar as dimensões das cenas mais simples a partir de um impressionante apuro técnico da linguagem. Ao contrário das sensações e da forma de encarar o mundo como são apresentadas, os poemas deste livro não se resumem ao ambiente doméstico. Há as cidades, as ruas das cidades, muitas cidades em Alguns dias violentos, e vem delas a sensação de cansaço presente nas peças, principalmente na que abre a obra, na voz de um oficiante esgotado, “Moído de mastigar cidades”. E esses lugares, longe de se permitirem como uma mimese exata do mundo, se parecem cada vez menos com o que são, ao se mostrarem mais como foram na memória e, principalmente, como poderiam ter sido. A sensação de desamparo, junto do olhar crítico e cirúrgico da vida, parecem vir carregadas de uma sina irreversível de pertencimento. É o que denuncia o movimento-síntese do poema “Os irreconhecíveis”, em que lemos: “E o desejo / A deformar todas as cidades / Naquela em que nasci.”
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