Deixar de correr nos caminhos indicados, caminhar na trilha que escolher para si. Em “Afrotopia” (2019) — livro que faz parte da seleção da Temporada no Futuro –, o economista e escritor senegalês Felwine Sarr defende a importância de os africanos criarem espaços de significações fundamentados em suas culturas para assim construírem sociedades que façam sentido para aqueles que as habitam.
Desenvolver um pensamento próprio sobre o passado e o presente possibilita forjar novos imaginários, novas possibilidades de futuro. Para isso, é necessário não apenas desafiar modelos impostos pelos colonizadores, mas também se descolar dos estereótipos e “pseudocertezas” ainda hoje dominantes em análises sobre a África. Feitas sob uma ótica ocidental, elas ora tendem à euforia, anunciando o crescimento acentuado do continente, novo destino dos capitais internacionais; ora ao pessimismo, reduzindo os africanos a imagens de miséria.
“O iluminismo e o humanismo privilegiaram a razão e a ciência, mas desconsideraram muitos saberes que não se adequam à razão ocidental”, comenta Stephanie Borges, curadora da temporada. “Pensar o futuro a partir de categorias diferentes do desenvolvimento e do progresso é uma possibilidade de reverter os efeitos do colonialismo e a desigualdade. Valorizar as filosofias e cosmovisões africanas é um caminho para entender a igualdade com respeito às diferenças.”
SOBRE O AUTOR
Felwine Sarr nasceu em Niodor, no Senegal, em 1972. Formado em economia pela Universidade de Orléans, na França, leciona na Universidade Gaston Berger de Saint Louis, no Senegal. Em 2016, criou junto ao filósofo camaronês Achille Mbembe o Ateliê do Pensamento, fórum anual que propõe um balanço sobre o estado da reflexão na África francófona, com o objetivo de impulsionar uma corrente de pensamento “decolonial”.