Sheyla Ayo
Futuro do pretérito
“Eu sou a mais velha, a artista da família. Sempre gostei de criar brincadeiras, objetos e situações. A maior parte sozinha, não me incomodava com isso. Eu pensava que as coisas eram boas em sua totalidade, que meus colegas riam para mim e não de mim, que os professores sempre me colocavam no fundo da sala, dando pouca atenção, porque era dispersa e só desenhava nas aulas. Eu imaginava um mundo aceitável, justo e muito colorido, colaborativo. Eu criava tudo isso nas minhas imagens, mas o pensamento adulto, a lucidez que me cerca hoje, tem me revelado outra face. Lidar com perdas, desgoverno, pensamentos coloniais e invisibilidade são lições que levo para casa todos os dias, e que são bem difíceis de assimilar. A vida adulta de uma artista, mulher e negra… de vez em quando, eu sinto saudade da minha meninice. Eu quero um futuro com o direito ao choro e à humanidade.”
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Quando você era criança, como imaginava o futuro? E como é o futuro que você quer agora? Como parte da nossa Temporada no Futuro, compartilhamos semanalmente as lembranças e expectativas que escritores, músicos e artistas tinham na infância em relação ao futuro, mostrando assim como a ideia do porvir se transforma com o tempo e como pode ser bom revisitar o passado para imaginar outras possibilidades.
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Sheyla Ayo é arte-educadora, fotógrafa, artista visual e multimídia. Sua pesquisa envolve desenho, pintura, fotografia, criando um diálogo com a ancestralidade feminina e o “refazimento” das trajetórias da história negra. Ao longo de sua carreira, participou de diversas exposições e coletivos, como o Coletivo Trovoa.