Stephanie Borges
Futuro do pretérito
“No fim dos 1980, eu acreditava que no futuro as pessoas teriam TVs e aparelhos eletrônicos em todos os cômodos da casa e que as famílias poderiam passear de foguete e fazer turismo no espaço: ver a Terra de muito longe e brincar na gravidade zero. Provavelmente essas ideias eram influenciadas pelo fato de gostar de ‘Os Jetsons’.
Atualmente, penso num futuro em que consigamos plantar mais árvores, na cidade e no campo. Um mundo cada vez menos dependente de carro, pelo qual possamos circular por aí sem medo porque conseguimos combater as violências que atravessam nossas vidas públicas e privadas.
Um tempo em que uma vida digna seja algo realmente comum, e todos possam se dedicar a uma atividade só pelo prazer. Durante anos a leitura foi hábito que criei e mantive pela alegria, mas depois que passei a cuidar de plantas, não consigo mais imaginar um futuro para mim que não inclua cultivar um jardim.”
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Como parte da Temporada no Futuro, compartilhamos ao longo dos últimos três meses retratos e depoimentos de escritores e artistas como Bruna Beber, Simone Campos, Carlos Eduardo Pereira, Winnie Bueno e Sheyla Ayó, contando quais eram suas expectativas na infância e quais são as de hoje. E como não podia ser diferente, encerrando a série temos a poeta Stephanie Borges, curadora da temporada, que nos conta como ela, criança, imaginava o futuro — um futuro bem diferente do que o que ela deseja hoje.
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Stephanie Borges é poeta e tradutora. Seu livro de estreia “Talvez precisemos de um nome para isso” (2019) recebeu o Prêmio Cepe Nacional de Literatura. Traduziu prosa e poesia de autoras como Audre Lorde, bell hooks, Claudia Rankine e Margaret Atwood. De junho a setembro, assinou a curadoria da Temporada no Futuro.