Winnie Bueno
Futuro do pretérito
“Eu tenho muitas fotos e muitos registros do meu ‘eu’ criança. Minha mãe tinha essa possibilidade de registrar muito de mim em uma época que isso não era exatamente comum para famílias negras. O rolo do filme, e a revelação das fotos, no início da década de 1990 não era exatamente barato, então muita gente por aí tem poucos registros dessa época de sua vida. Minha mãe, uma das raras mulheres negras funcionárias públicas desse tempo, tinha a oportunidade de capturar meu ‘eu’ criança em muitas fotos que hoje servem para que eu possa olhar meu próprio passado e refletir sobre o que esperava do futuro. Não me recordo de pensar no futuro quando eu era criança, estava muito preocupada em viver o presente. A vida que minha avó e minha mãe me oportunizaram não me exigia pensar no futuro. Acho isso extremamente saudável, não me preocupar com um futuro sendo criança foi um privilégio. Hoje eu desejo um futuro em que nenhuma criança negra precise se angustiar com a existência de um futuro. Um futuro em que o presente seja suficiente para que a vida dessas crianças seja respeitada e valorizada. O futuro que eu desejo exige compromisso com o presente.”
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Quais eram as suas expectativas para o futuro quando era criança? E hoje? Como parte da Temporada no Futuro, a cada semana compartilhamos as lembranças e os anseios de convidados.
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SOBRE WINNIE BUENO
Winnie Bueno é doutoranda em Sociologia pela UFRGS, mestre e bacharel em Direito. Tem dedicado seus estudos a sistematizar e circular o pensamento feminista negro a partir de ativistas intelectuais negras, sobretudo Patricia Hill Collins. É autora de “Imagens de controle” (2020) e fundadora e coordenadora da Winnieteca, projeto de distribuição de livros para pessoas negras.