ORYX E CRAKE
Margaret Atwood
O futuro pode ser assustadoramente familiar, como mostra Margaret Atwood em “Oryx e Crake”. No livro — o primeiro da trilogia MaddAddão e o quinto da nossa Temporada no Futuro –, a autora de sucessos como “O conto da aia” prova mais uma vez por que, além de ser celebrada em suas incursões por romance, conto, poesia e ensaio, é considerada um dos grandes nomes da ficção especulativa.
Mudanças climáticas, novas doenças, o fim dos limites éticos para experiências com humanos e animais e grandes corporações controlando a segurança pública compõem o cenário do livro. Na trama, um cientista decide criar uma nova raça e extinguir a humanidade, dando uma nova chance ao planeta. Entre as ruínas de nossa civilização, Jimmy — agora conhecido como o Homem das Neves — recorda sua vida enquanto tenta ensinar os novos habitantes da Terra a sobreviver.
“As memórias de Jimmy revelam que a vida no planeta já vinha se deteriorando desde que ele era um menino, mas, embora lamente o fim do mundo como conhecia, ele não é capaz de reconhecer que era parte do problema. Suas reflexões sobre o amor, a amizade e o que significa ser humano nos mostram alguns dos valores que levaram a humanidade ao colapso. No entanto, esse é só o começo de uma outra história”, diz a poeta Stephanie Borges, curadora da temporada.
SOBRE A AUTORA
Margaret Atwood nasceu em Ottawa, no Canadá, em 1939. Com livros publicados em mais de 30 idiomas, foi consagrada por alguns dos mais importantes prêmios internacionais, como o Man Booker Prize (2000 e 2019) e o Príncipe das Astúrias (2008), pelo conjunto de sua obra, além de ter sido agraciada com o título de Chevalier de L’Ordre des Art et des Lettres, na França. É autora de “O conto da aia”, “Dicas da imensidão”, “Os testamentos”, “Política do poder”, entre muitos outros títulos.
Um jovem cientista decide criar um “super humano” que tenha as melhores características da humanidade e seja incrementado com o que for necessário para alcançar a perfeição. O nome desse cientista é…. Victor Frankenstein? Ou seria Crake? A resposta correta é: os dois!
Ainda que separadas por um século, tendo vivido e escrito em contextos muito diferentes, a inglesa Mary Shelley (1797-1851) e a canadense Margaret Atwood (1939-) escreveram histórias acerca dos avanços tecnológicos impulsionados pela ambição do homem em se tornar uma divindade criadora e dos limites éticos dessa empreitada. O romance gótico de Shelley, ”Frankenstein ou o Prometeu moderno” (1818), até mesmo aparece nos poemas da coleção “Speeches for Doctor Frankenstein” (1966) e em “Oryx e Crake” (2003), de Atwood, o quinto livro do nosso projeto Temporada no Futuro.
Considerada a primeira obra de ficção científica, “Frankenstein” tem enredo bastante conhecido. Victor Frankenstein cria um ser, mas, enojado com o resultado, abandona seu monstro, que passa a vagar solitário, sem entender por que é rejeitado. Já “Oryx e Crake” conta a história de Jimmy, o único ser humano restante em uma Terra devastada por um vírus de laboratório criado para dizimar a população, abrindo espaço para uma nova espécie geneticamente modificada: os humanoides conhecidos como Filhos de Crake. Jimmy não é a criatura, mas, tal como o monstro, se vê condenado ao isolamento. Em determinado momento, desesperado, desabafa: “Por que eu estou nesta terra? Por que estou sozinho? Onde está a minha Noiva de Frankenstein?” (Mais referências aparecem nos outros volumes da trilogia, mas chega de spoilers!)
Apesar das diferenças entre os dois livros, após lê-los, é difícil não chegar às mesmas perguntas: seria um humano capaz de moldar sozinho seres perfeitos? O que é perfeição? Quais os custos de uma ciência desenvolvida para satisfazer as ambições de um indivíduo? Seja nas universidades e centros de pesquisa, seja nos noticiários, nos livros e filmes, essas perguntas seguem relevantes.