A PARÁBOLA DO SEMEADOR

A PARÁBOLA DO SEMEADOR

Octavia E. Butler

Ano 2024: uma crise ambiental e econômica  tornou os Estados Unidos um país arrasado, dominado pelo terror e pela desigualdade, e nostálgico por seu passado próspero. Jovem filha de um pastor, Lauren Olamina não se conforma com o desejo de todos à sua volta de que tudo volte a ser como antes e, em meio à luta pela sobrevivência, cria uma mistura de filosofia e religião para lidar com a instabilidade no mundo, dando origem a uma comunidade autônoma ligada  à terra e ao sonho de alcançar as estrelas.

Um dos maiores sucessos da escritora norte-americana Octavia E. Butler, “A parábola do semeador” é o segundo livro da seleção preparada pela poeta Stephanie Borges para a Temporada no Futuro. Nele, Butler propõe reflexões sobre racismo e a violência.

“‘A parábola do semeador’ começa em um cenário extremamente distópico, mas não é necessariamente um livro catastrófico, pessimista. Para a protagonista, a única maneira de sobreviver é abandonar a nostalgia e criar um mundo novo. Mudar não é fácil, mas é a única saída”, comenta Stephanie. “É um livro que fala muito sobre chegar bem perto do fim do mundo e como evitá-lo, e como isso passa pelas mudanças nas nossas atitudes e nas nossas relações”, conclui.


SOBRE A AUTORA

Octavia E. Butler, nasceu em Pasadena, nos EUA, em 1947. É uma das mais aclamadas autoras de ficção científica, tendo recebido prêmios como o Hugo, o Nebula e o Locus, além da MacArthur Fellowship, concedida a norte-americanos excepcionais em suas áreas. Entre seus livros estão “Despertar” (2018), “Kindred” (2019) e “Filhos de sangue e outras histórias” (2020). 


Butler e o Afrofuturismo

A revolução será afrofuturista ou não será! Cunhado por Mark Dery em um ensaio de 1993, o termo “afrofuturismo” nasceu de um questionamento. Como narrativas sobre opressão e resistência podiam excluir parte da população que mais sofreu historicamente com a supressão de sua liberdade? Como projeções do futuro eram limitadas a visões brancocentradas que não levavam em consideração outros saberes e vivências? Onde estavam os escritores de ficção especulativa negros para preencher essa lacuna? 

É aí que entram nomes como Samuel R. Delany e Octavia E. Butler, autora norte-americana responsável por livros como “A parábola do semeador”, segundo título escolhido por Stephanie Borges para o nosso projeto Temporada no Futuro. Desde os anos 80, as histórias de Butler eram protagonizadas por personagens negras, pobres, mulheres, refugiadas. No espaço ou na Terra, o encontro com a diferença era sim problematizado, mas também celebrado. Seus livros apontavam para futuros melhores, desde que haja disposição para enfrentar algumas das questões sociais mais problemáticas. Tudo fruto do talento de uma mulher negra, que se destacou em um gênero dominado por homens brancos, sendo inclusive reconhecida com alguns dos mais importantes prêmios de ficção científica e fantasia, como o Hugo e o Nebula. Não à toa Butler é apontada por muitos como a “mãe do afrofuturismo”.

Como um termo guarda-chuva criado para dar conta das criações artísticas que exploram futuros possíveis, o afrofuturismo abriga múltiplas leituras e, atravessado por experiências variadas, aparece das mais diversas formas, para muito além da literatura — alguns de seus precursores foram os músicos Sun Ra e George Clinton. Mas se tem algo que está em sua base é que, a partir do inevitável e necessário fim do mundo em que vivemos, são imaginados futuros melhores para todos, construídos em conjunto, sem as tensões e violências raciais do passado e do presente. Outro elemento que distingue o afrofuturismo é a valorização da ancestralidade, de mitologias negras que aqui coexistem com as novas tecnologias, ao contrário de um rompimento total com o passado, como pregado por outros movimentos.

Hoje, o afrofuturismo é muito mais conhecido por aqui como resultado do trabalho de pesquisa e difusão de conhecimento conduzido por pesquisadores como Kênia Freitas, Morena Mariah, Rosane Borges, para citar apenas alguns nomes, e também como reflexo da profusão de livros (e.g. as trilogias “O legado de Orïsha”, de Tomi Adeyemi, A Terra Partida”, de N. K Jemisin, e “Binti”, de Nnedi Okorafor), música (e.g. Janelle Monáe, Xênia França), filmes (e.g. “Pantera negra”), peças (e.g. “Ialodês – Um manifesto da cura ao gozo”, de Dione Carlos) e por aí vai.

Ao longo da Temporada no Futuro, apresentaremos aqui, entre outros conteúdos, algumas dessas referências. E colaborações são sempre muito bem-vindas! Escritores, cineastas, ilustradores e quadrinistas, artistas visuais, dramaturgos, iniciativas educacionais, podcasts, booktubers, clubes de leitura… vale tudo. Contamos com as suas dicas para ampliar o nosso repertório de inspirações para futuros possíveis.


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