Descrição
Não se assuste o leitor se dissermos logo de início que “para a perfeita compreensão da nossa história, aqui devemos terminar nossa história”. É que para melhor se compreender essas três imensas novelas de encontros inesperados e paradoxais, o melhor é ouvir os silêncios, os intervalos, as fissuras que sobrevivem ao término da performance.Embora marcadas pelas vanguardas históricas, estas novelas, escritas em 1931, buscam uma outra experiência da temporalidade, como se a destruição humana já tivesse se consumado e vivêssemos uma espécie de pós-vida, pós-histórica, que começasse pelo fim. No entanto, ali onde termina, sobre as ruínas do mundo burguês e da insanidade da guerra continuada na paz capitalista — sempre à beira de uma nova catástrofe — começa a possibilidade de uma outra acoplagem de realidades, um universo super-real (mais surrealista que o “surreal”) que se produz pela montagem e desmontagem dos mundos.Como fruto vanguardista do encontro de um poeta chileno (Huidobro) e um multiartista franco-alemão (Arp), as micronarrativas aqui reunidas contam a história de quando as palavras eram capazes de surpreender todos os sentidos e embaralhá-los entre os pensamentos e os afetos. Retomam um plano mítico de quando “um grande relâmpago vindo das alturas se afastou crescendo como o mais belo juramento de amor”.Nestas imensas, embora curtas, novelas, os crimes são de toda a humanidade e a solução do mistério depende da nossa capacidade de aprofundá-lo ainda mais. É o que fazem muitos Antônios anônimos que respondendo pelas dores do mundo se tornam (e nos tornam) os verdadeiros artistas.Do vazio de sentido à interconexão de todas as coisas, da repetição mecânica ao deslumbre, essas complexas narrativas vão desenhando uma paisagem falante em que os tempos são intercambiáveis, as imagens são coisas e as coisas, palavras. Aqui, o delírio e a razão, a guerra e a paz, a história e a paródia, o natural e o tecnológico, compõem o mesmo delicioso prato de novelas entrelaçadas. Ou melhor, aqui, “os estimados artistas e queridos colegas Huidobro Arp e Hans Vicente arrancaram as pedras de neve de seus olhos e as substituíram com estandartes de lírios e lótus que imediatamente fincaram raízes nessa boa terra vegetal e cresceram como quatro antenas recebendo as ondas de valsas guerreiras das últimas batalhas”.Nessas trocas e substituições infinitas onde tudo pode ser outra coisa, as duas histórias de Huidobro que encerram o volume pintam dois países fantásticos com sua
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